quarta-feira, 10 de junho de 2015

Bastidores da série Arquivos Perdidos

Não sei você, prezado leitor, mas eu simplesmente adoro ver como outros autores trabalham, qual seu método para desenhar, compor as páginas, escrever roteiros... matérias desse tipo são como aulas para mim. Então, dentro de minhas parcas possibilidades, resolvi compartilhar com vocês como é o processo de criação da série Arquivos Perdidos, que está sendo publicada online no site do Salomão (ainda não conhece? Clique aqui!)

Detalhe do site
Bem, para começar, eu tenho a IDEIA. Sim, parece meio óbvio, mas sem uma IDEIA inicial, aquela fagulha que dá início ao fogo, não tem história. Nesse caso, o pontapé foi: "Salomão Ventura é um sujeito estranho, e todo mundo já sacou que ele não é (spoiler alert) humano... Então, que tal se eu explorasse histórias que aconteceram no passado? Histórias perdidas... Arquivos Perdidos!!"

Dessa ideia inicial fiquei pensando em que época eu situaria a história, e quando eu estava começando a pensar em um tema a explorar, desenhava uma HQ curta (que você também confere no site) sobre Nazistas Zumbis! Daí juntei a fome com a vontade de comer: vou escrever uma história envolvendo os Nazistas (vilões perfeitos, já que além de serem descaradamente maus, também exploravam o ocultismo) no Brasil.



Já havia ouvido rumores de navios nazistas que afundaram na costa brasileira, então não seria totalmente infundada minha ideia. Para deixar mais bacana, resolvi acrescentar elementos da mitologia afro-brasileira.

Com cuidado, fiz uma pesquisa informal junto a praticantes da Umbanda para ver se minha história não seria mal interpretada ou mal vista pela religião deles... tendo esse "aval", comecei o roteiro.



O Roteiro
Há diversas maneiras de se fazer um roteiro de histórias em quadrinhos. Os mais tradicionais são como roteiros de cinema, onde o roteirista (ou argumentista) faz uma narração detalhada do cenário, da ação, do tempo e diálogos. Isso é passado para o desenhista, que faz sua parte, e em seguida para o arte-finalista e em fim para o colorista. Isso quando não há o editor, que é quem supervisiona todo o processo sugerindo acertos e/ou alterações.

No caso de Arquivos Perdidos, eu sou o roteirista, desenhista e editor. Logo, não quis fazer um roteiro formal. Preparei em um caderno meio pautado o roteiro, ao mesmo tempo em que decupava as cenas nas miniaturas das páginas ao lado (chamadas, no meio das HQs, de thumbnails).
Assim tinha uma guia para ir desenhando as páginas com calma, e o mais importante: sabendo como minha história começava, se desenrolava e principalmente - terminava!

thumbnails e roteiro
Uma página do meu roteiro, com as miniaturas decupadas
das páginas ao lado

Preparando para desenhar
Assim que iniciei o roteiro e escrevi toda a história, parti para pesquisa de imagens. Você sabe, nazistas não são parte do meu dia a dia, então dificilmente desenharia um de cabeça de maneira correta. Hoje o google images ajuda muito na hora de pesquisar referências, então foi o que eu fiz, salvando as fotos que mais gostava no HD para uma busca mais rápida.



Desenhando a página
No começo, eu estava desenhando a história usando material convencional (papel opaline 180g formato A3, lapiseira azul e 0.5 com grafite 2B, borracha). Mas depois que adquiri minha mesa Cintiq, passei a trabalhar totalmente no digital. Além de tornar a produção mais rápida, me permite praticamente editar a página enquanto desenho, já que nessa etapa também adiciono os textos e balões, requadros, efeitos sonoros, etc.
Da página 25 em diante, mudei um pouco o método: só tenho as thumbnails e a descrição do que ocorre na página em meu roteiro à mão. O texto final eu digito direto na página que estou desenhando... Algo como Stan Lee fazia depois que pegava as páginas à lápis de Jack Kirby, e que ficou conhecido como "Método Marvel".





Aqui, eu apareço desenhando diretamente na mesa gráfica Cintiq 13HD: rapidez na produção



Detalhe de um requadro com o desenho "à lápis" digital

Arte-final e Cores
Dessa vez, não estou fazendo tudo sozinho. Conto com a ajuda de duas verdadeiras feras, amigos que tive o privilégio de ter como alunos há milênios atrás, e que agora superam o mestre em suas artes.
Clóvis Brasil recebe as páginas "à lápis" e faz a arte final em uma camada separada, deixando o traço limpo e pronto para receber as cores aplicadas pelo fera Marcello Renoir. Nessa etapa a história ganha outra intensidade, com uma carga dramática muito maior!


Clóvis Brasil na etapa de arte-final digital

Marcello Renoir aplicando cores a uma página já arte-finalizada


Publicando
Depois que a página fica pronta, é hora de publicá-la. Essa série está sendo publicada no site, uma página nova a cada semana. A ideia depois é compilar tudo para preparar uma edição impressa, e o lançamento será no FIQ desse ano!

Bom, é esse o meu método. Espero que possa ter ajudado alguém aí que está começando a produzir suas próprias HQs! Se quiser perguntar alguma coisa, fique à vontade para comentar abaixo! Responderei com prazer!

Um abração de toda equipe!

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